Um Sopro de Vida

Sinopse:

“Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.”

Com essas palavras, Clarice Lispector convida o leitor a uma experiência literária singular. Um Sopro de Vida e A Hora da Estrela foram escritos simultaneamente, movidos pela mesma inquietação: a busca por identidade e a tensão entre a criação e o criador.

Clarice questiona a si mesma: “Estou com a impressão de que ando me imitando um pouco. O pior plágio é o que se faz de si mesmo.” E essa reflexão se intensifica com outra constatação: “E há também os meus imitadores (…) algumas pessoas que tiveram o mau gosto de serem eu.” Entre esses imitadores, a crítica literária se destaca, tentando decifrá-la e, ao mesmo tempo, multiplicando a ambiguidade em torno de sua figura.

No entanto, seus livros nunca oferecem respostas definitivas. Pelo contrário, são um mergulho profundo em uma identidade fragmentada e em constante transformação. Um Sopro de Vida poderia ter encerrado essa busca, mas, em vez disso, expande a ideia de que Clarice Lispector era, ao mesmo tempo, autora e personagem de sua própria obra.

Neste livro, a autora cria Ângela Pralini, uma personagem através da qual dialoga consigo mesma e experimenta afastar-se de seu próprio estilo—ou melhor, de si mesma—para evitar o “pior plágio”. Enquanto Miguel de Unamuno, em Niebla (1914), mantém seu protagonista sob controle, Clarice se deixa transformar por Ângela. Esse processo se intensifica em A Hora da Estrela, onde Macabéa leva essa ruptura ao extremo.

Entre ficção e metalinguagem, Um Sopro de Vida não apenas revela os dilemas da escrita, mas também reafirma a liberdade literária de Clarice Lispector—uma autora que sempre desafiou os limites entre a criação e a existência. Afinal, como ela mesma avisa: “Se alguém me ler será por conta própria e autorrisco.”